A gaguez é uma perturbação da comunicação caracterizada pela interrupção do fluxo do discurso, através de repetições, prolongamentos e/ou bloqueios, por vezes acompanhada por outros movimentos associados, como o piscar de olhos e outros movimentos atípicos do corpo.
O início
De forma generalizada, a gaguez surge entre os 2 e os 4 anos, depois de a criança já ter começado a falar. Em 80% dos casos desaparece pouco tempo depois, estimando-se que 4% das crianças atravessem uma fase em que repetem ou prolongam sons. Ao aparecer na infância pode, posteriormente, prolongar-se e agravar-se durante a vida adulta, tornando-se assim crónica (cerca de 1% da população mundial).
Causas
Ao contrário da imagem estereotipada de que a gaguez terá origem na ansiedade e no nervosismo, não estamos a falar de uma perturbação de causa emocional. Claro que as emoções poderão fazer gaguejar mais, mas isso também acontece com quem não gagueja. Quando estamos nervosos, ansiosos, ou até mesmo emocionados, as disfluências aparecem com maior frequência.
Investigações na área da genética, neuro-imagem e coordenação motora têm vindo a demonstrar que poderemos estar perante uma perturbação causada por um problema de integração dos “circuitos neurológicos”. Circuitos que transformam a linguagem em suaves movimentos motores sincronizados (fala). Sabe-se ainda que muitas pessoas que gaguejam poderão ter uma predisposição genética. Estes fatores, em conjunto com o desenvolvimento da criança e o meio ambiente, poderão explicar o início e a permanência deste quadro clínico.
Fatores de risco
O conhecimento dos fatores de risco permite realizar um diagnóstico precoce, o que possibilita o rápido acesso a tratamento, que promove o desaparecimento ou a redução dos sintomas da gaguez, assim como minimiza o impacto negativo na qualidade de vida das crianças que gaguejam.
Quando as crianças apresentam alguns ou todos estes sinais de alarme, os pais devem procurar um profissional especializado em gaguez, para que este forneça estratégias e determine qual o melhor tratamento.
Fatores de risco para a Gaguez
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Fatores de Risco
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Risco Elevado
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História familiar de gaguez
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Quando existe um ou mais familiares que gaguejam
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Idade de incidência da gaguez
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Início de gaguez após os três anos e meio
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Tempo de duração desde o início da gaguez
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Gagueja há 6/12 meses ou mais
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Género
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Masculino
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Produção de fala
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Dificuldades de fala, dificuldade em compreender a criança
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Competências linguísticas
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Nível linguístico demasiado avançado, atrasado ou com perturbação
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Impacto
As manifestações da gaguez não se resumem à fala, mas também nas atitudes perante a comunicação. A maioria das pessoas que gagueja evita, por exemplo, falar em público, falar com um desconhecido, participar na escola, entre outras situações, que naturalmente podem suscitar vergonha e embaraço por parte de quem as vive e conduzir a uma redução de oportunidades.
Para 1% da população mundial que gagueja, tarefas diárias como utilizar o telefone, pedir direções ou fazer um pedido no restaurante pode ser algo muito difícil.
O medo de falar, de ser gozado ou o simples receio de enfrentar a impaciência das pessoas, são fatores que poderão condicionar a socialização desde muito cedo, normalmente desde os cinco anos.
A Terapia da Fala pode ajudar
Apesar de a gaguez ainda não ter cura, tem tratamento. Uma terapia para a gaguez em fase precoce pode inclusive conduzir à remissão em crianças. Noutros casos, a terapia pode minimizar os sintomas da gaguez, ajudar a comunicação no geral e melhorar a qualidade de vida de quem gagueja.
Como posso ajudar o meu filho?
Nas abordagens na infância, os pais têm um papel fulcral. São aliados terapêuticos únicos e preponderantes no sucesso terapêutico, privilegiando o contacto visual, o chamado “olhos nos olhos”, demonstrando à criança que tem interesse efetivo no que esta quer transmitir e demonstrando-se disponível. Esta disponibilidade poderá ser demonstrada, não apenas por palavras, mas também através da linguagem não verbal (gestos, expressões faciais, sorriso, toques). Deve mostrar que está atento ao seu discurso e que não importa o modo/forma como o faz, mas sim a mensagem/conteúdo que esta expressa.
O que não deverá acontecer é qualquer tipo de reparo à gaguez da criança, o que funciona como um reforço negativo, algo que transmite sempre a mensagem de: “a tua fala não está bem”. Ao contrário de fazer reparos, faça antes elogios quando a criança tem um discurso fluente. Isso trar-lhe-á mais confiança e prazer na comunicação.
É precisamente a sensação de que existe um espaço de tolerância, de respeito, de segurança, que permite à criança explorar o meio, experienciar, descobrir, sempre com a certeza que, mesmo quando a gaguez surge, poderá sempre contar com este espaço de amor incondicional e aceitação total.
A Terapeuta da Fala, Liliana Lucas