Ao longo de
20 anos de experiência e intervenção com jovens, não raras vezes me confrontei
com as suas dúvidas e inseguranças; questões como “o que será melhor para
mim?”, “o que devo escolher?”, “quando era pequeno(a) queria uma coisa e agora
quero outra”, ”sinto-me confuso”, “eu quero mesmo este curso, mas os meus pais
acham que não é adequado para mim”... Ao chegarem ao 9.º ano de escolaridade,
surge a necessidade de efetuar uma escolha, e muitos jovens não se sentem
preparados para esse passo. Nesta realidade exigente e competitiva, a questão
da decisão vocacional é fulcral e de grande responsabilidade, porque se trata,
para o jovem, de preparar o seu futuro.

Num mundo de incertezas e de flutuações, a
carreira profissional tem de ser vista e vivida de modo flexível, uma vez que
aquele contexto em que uma pessoa era admitida num determinado emprego e nele
permanecia até se reformar é algo que se encontra em processo de mudança; as
próprias qualificações exigidas pelo mercado de trabalho sofrem rápidas
alterações, tal como as profissões a que dizem respeito.
Construir uma identidade (como adulto)
significa ser capaz de perceber e assimilar as diferenças entre os valores,
necessidades e expetativas próprios e os dos outros. A formação da identidade
começa com a capacidade de realizar esta distinção. Se os os adolescentes não
forem capazes de ultrapassar esta tarefa da adolescência, então, também não
serão capazes de se percecionarem como capazes de efetuar uma tomada de decisão
relativamente a um curso/profissão. A construção de um projeto
escolar/profissional é simultaneamente a construção de um projeto de vida,
conhecermo-nos a nós próprios, explorando os nossos valores, aptidões e interesses,
bem como estar disponível para a tarefa de exploração relativa ao sistema de
ensino, com as suas ofertas específicas, o mundo do trabalho e das profissões.
Este
conhecimento é parte integrante do processo de escolha e surge da reflexão
efetuada para perceber quais são os nossos valores, interesses, aptidões e nos
ajudar a pensar sobre quem queremos ser no futuro, na construção de um projeto
e na descoberta de si mesmo.
A Orientação Escolar e Profissional é,
assim, um processo que se inicia desde o nascimento e nos acompanha ao longo do
nosso desenvolvimento e da própria carreira. Existem momentos mais importantes
do que outros: são aqueles em que se impõe uma tomada de decisão, uma escolha.
Não existem idades nem momentos certos para fazermos escolhas, que são
difíceis. Um projeto de vida é algo inacabado que deve, pode ser revisto e
alterado todas as vezes que for necessário. Desistir de um curso a meio ou
mudar de profissão não é tarefa fácil para ninguém. É uma nova escolha tão ou
mais difícil como a que a antecedeu.
O
papel que os pais/família poderão desempenhar é importantíssimo! Orientar é guiar, não significa escolher
pelo seu filho ou escolher para ele. É estar presente, é motivar, é realçar os
aspetos positivos do seu filho, é apoiar as suas opções, ser capaz de encorajar
a sua autonomia para que este tenha mais condições de tomar uma decisão
ponderada, coerente e refletida. O mais importante não é o jovem ser capaz de
dizer “eu quero ser médico”, por exemplo. O essencial mesmo é o processo em si
e a forma como o jovem se implica e participa, com o objetivo de se descobrir e
de construir um projeto para si.
Escolher um percurso académico nem
sempre é tarefa fácil, sobretudo quando existem múltiplas alternativas. Quando
se trata de decidir sobre o seu futuro escolar e profissional,
os nossos jovens necessitam muitas vezes da ajuda de um técnico especializado
que, com os conhecimentos, os instrumentos e técnicas adequados, os oriente no
processo de tomada de decisão.

A Orientação Escolar e Profissional tem como objetivo principal
conduzir o jovem num processo de autoconhecimento, ajudando-o na descoberta dos
seus interesses, aptidões e caraterísticas de personalidade. No final de um
processo, o jovem deverá conseguir reunir um conjunto de informações relativas
às suas possibilidades, sobre quem é, pelo que se interessa, o que é capaz de
fazer, as oportunidades, as alternativas, o trabalho, a carreira. O jovem é
sempre o “ator” principal, agente ativo e responsável pela tomada de decisão,
sendo o psicólogo impulsionador do processo, ajudando-o na criação de
competências para uma tomada de decisão planeada, consciente e realista.
Para a concretização destes
objetivos, no presente
ano letivo, o Serviço de Psicologia e Orientação (SPO) do Agrupamento de Escolas
Afonso de Paiva iniciou já as sessões de Orientação Escolar destinadas a todos
os alunos do 9.º ano. As mesmas serão dinamizadas ao longo do ano pela
Psicóloga do SPO, Cidália Ribeiro, com atividades diversas desenvolvidas
quinzenalmente. A intervenção será realizada em articulação com o(a) diretor(a)
de turma. Durante o 3.º período, serão realizadas entrevistas individuais com
os alunos que participarem nas sessões.
Especialmente aos nossos alunos do
9.º ano desejamos uma boa caminhada que iniciámos juntos. Que os vossos sonhos se concretizem em projetos!